30 de setembro de 2005

apesar da brutalidade

está tudo dito aqui, sobre a mania do blasfémias (ou de alguns deles). É pena, porque é mesmo um dos meus preferidos, mas realmente medir a credibilidade pela audiência, ou a qualidade pelo sucesso, não é grande idéia. (de qualquer maneira, foram eles que puseram os links, o que revela desportivismo).

A Felgueirada

A blogagem geral, pelo menos a de carácter mais liberal (que é a que se lê aqui), dividiu-se entre os que repudiavam a senhora e os que até a apoiavam -ainda que ironicamente- mas que repudiavam o sistema. Por aqui estamos entre o primeiro grupo. O sistema legal português funciona mal, as leis podiam certamente ser mais simples e eficientes e não deixar estes buracos que põem toda a gente de boca aberta. A prisão preventiva também não é certamente uma grande demonstração de civilidade quando a lentidão dos processos deixa pessoas presas à espera sem saber durante quanto tempo – e presumivelmente inocentes até se provar o contrário.
Mas, mesmo assim, não se pode partir do princípio de que um sistema legal mais eficiente, por si só, elimina a necessidade de existirem uma ética e uma moral na sociedade. Ou ainda de que um sistema mais eficiente é necessário apenas e só por causa da inexorável degradação das mesmas no “mundo de hoje em dia”. Isso é uma posição, bem, ultra-estatista! E nada liberal. Em palavras simples: O Estado pode obrigar-me a comportar de certa maneira, porque eu, à partida, não tenho que ter nenhuma moralidade, civismo ou sentido ético. Assim, para evitar todos os abusos, as leis devem cobrir todos os aspectos do comportamento humano. Ou seja, mais regulamentação, mais Estado. Brilhante.
A moral tradicional, ao contrário do que afirma o JM, aguenta com todo o “mundo contemporâneo” que lhe quiserem atirar. Matar é mau, roubar é mau, e candidatar-se sob processo idem. Tudo noções simples e apuradas ao longo de séculos de convivência humana, e que dispensam muitas e compicadas leis. E também, particularmente no mundo de hoje em dia, cada vez mais indispensáveis se não queremos rebentar uns com os outros!

27 de setembro de 2005

anti spam measures

teve que ser. Agora, se quiserem escrever para aqui alguma coisa, vão ter que escrever umas letrinhas que vêem no ecran. É muito simples, é uma seca, mas é o mundo em que vivemos (e não é tão mau quanto isso, comparado com ter a caixa de comentários cheia de anúncios idiotas).

novidades

eliminei as diferenças fascizóides entre "diários", "zés" e "simpáticos". Pronto, agora está tudo no mesmo saco - ainda que se mantenha uma certa disciplina... Acabei com as rádios, pelo menos para já. Os arquivos passaram para baixo, e ainda não consegui pôr "postas" em vez de "comments"! se alguém souber diga! Mas e mais importante, cinco novos magníficos:
Os políticos (e mais ou menos direitistas, ahimé) Insurgente, Arte da Fuga e Mão Invisível, que tenho que ler com mais calma mas que já me deram bons momentos;
A inigualável Rititi na sua cuequice cor-de-rosa;
A Rua da Judiaria, muito bem escrita e muito interessante.

26 de setembro de 2005

Mais coisas irritantes

O Blasfémias às vezes faz-me chegar a mostarda ao nariz. Tudo bem que reflecte a natureza caótica do capitalismo; tudo bem que seja adepto cego do FCP. Alguns colaboradores são muito chatos e cinzentos; além disso defendem a regionalização, o que me parece incrível que façam dado que são liberais e isso, no nosso miserável país, comporta precisamente um aumento do peso do Estado e diluição de responsabilidades!
Já só tenho practicamente paciência para o JM, cuja escrita curta e brutal é sempre um prazer de ler, tal como o Bertrand Russel ou o Léon Krier na arquitectura - podemos não concordar, mas é inegável e desarmante a simplicidade dos argumentos. Ora, um desses que me irrita profundamente é esta resposta ao JPP. E o que me irrita nela é que pega na mesma falácia Hegeliana já aqui discutida antes em relação à arquitectura. Ou seja, a ideia de que “o mundo em que vivemos” é uma entidade com uma força inexorável e de a ela nos termos que submeter, sob pena de desaparecermos ou de sermos esquecidos pela História.
Não me interessa se ao mundo moderno não serve um sistema de valores – isso é relativismo moral e o maior perigo para as nossas sociedades ocidentais. Nem para aqui me interessa a “qualidade da lei”, ou o que quer que isso seja. Eu acho que toda a “Felgueiras situation” é mais que deplorável e incomoda-me que, aparentemente, seja normal para muita gente, ou que seja SÓ um problema de termos uma lei estúpida. É claro que a lei deve ser eficaz (ou seja, fazer mais com menos) e preparada para lidar com o pior da espécie humana. Mas se não houverem valores nem moral nem civismo também não há lei que nos valha, porque para fazer as coisas funcionar seria necessário regulamentar TODAS as niquices – in my book, aumentar o já transbordante peso do Estado.
O que me irrita no Blasfémias é o pensamento abstracto que vê exclusivamente o mercado e a lei (por muita “qualidade” que tenha) como soluções para os nossos males. Eu também acho que precisamos de muito menos Estado, de muito mais mercado e de muito melhores leis. Mas também de melhores pessoas – urgentemente.

P.S. 1 • Não tenho aqui à mão o livro do Popper, mas ele diria qualquer coisa como: o Homem cria a História, não é um seu mero produto;
P.S. 2 • Foi o próprio JM que, tanto quanto me lembro, atacou o relativismo moral quando o “Emperor Palpatine” se tornou Papa... (aliás, usando mesmo diálogos do Star Wars!)

Arquitectura Romana


Francesco Berarducci, interior da sua casa no prédio também por ele desenhado, nos anos setenta (acho eu). Alcatifa branca, betão e tijolos pintados de branco, consolas que desafiam a gravidade (todo o nicho da foto é um volume exterior), a casa organizada em degraus. Maravilhoso.

Dia Europeu Sem Carros

Resultados de mais uma imbecilidade politicamente correcta: os carros circulam na mesma, mas o metro está cheio de velhos a passear porque não se paga. Vão todos sentadinhos, para trás e para a frente, e ocupam o espaço das carruagens modernas mas pensadas para um terço dos utilizadores: viaja-se como sardinhas em lata, quando não é completamente impossível entrar.
Ou seja: quem se lixa é quem, como eu, não tem carro e usa os transportes públicos.
Ou seja: mais uma vez, alguém que acha que sabe aquilo que é melhor para mim acaba por gastar o meu dinheiro para me prejudicar. Há poucas coisas que me irritem tanto.

(A não ser também a neandertalidade do utente médio do metro do Porto, que entra à bruta na carruagem sem esperar que os outros saiam (bestial com o caos da sexta passada) e não se sabe encostar à direita nas escadas rolantes. Também não há avisos, como se isso não fosse essencial para que o metro funcione de um modo eficaz. Será que é assim em Lisboa? Já não me lembro bem.)

22 de setembro de 2005

a hibernar

mas não por muito mais tempo. A seguir, Francesco Berarducci e Guia de Roma!

15 de setembro de 2005

adeus

Roma. Acabou o meu dia de trabalho e quase um ano entre os romanos. Amanha volto à terrinha, e durante um mes e meio, aproximadamente, este pasquim vai passar a ser escrito do Porto, Guarda, Costa Nova do Prado, Lisboa e talvez Madrid (isto se nao vierem outras ao barulho). Levarei saudades da vida relaxada, dos amigos e da cidade antiga inigualavel, que nunca acaba. Mas em Novembro vou começar a trabalhar em Nova Iorque (se o céu nao cair) e tenho a impressao de que tudo o que fiz até aqui foi brincar às casinhas comparado com o que ha-de vir. So help me God, mas para ja férias e uma foto do primeiro projecto do chefe (e o meu preferido), a igreja de S. Agostino di Canterbury, na periferia romana.


(quando estava dentro a tirar fotos, aproxima-se uma velhota e pergunta:
- Desculpe, é estudante de arquitectura?
- Bem... sim... mais ou menos...
- Entao por favor nunca me faça um projecto assim! Deve ser a igreja mais feia de Roma!)

12 de setembro de 2005

cenas romanas

(B), (C), (D), (E), (F) preparam-se para ir almoçar. (A), o chefe, nao esta'. (E), o outro chefe, socio do (A), avisa os subordinados: "rapazes, vamos telefonar ao A, mas cuidado que é melhor nao irmos a nenhum sitio caro porque o A para pagar...". OK, vao entao ao barzito do costume, onde param os adolescentes betos, velhos playboys, trintonas de mamas siliconadas e labios ultra-botoxizados, trintoes ultra-bronzeados a armar ao biziness-men e gente gira do Norte de Roma em geral.
Chegam ao bar. (E) telefona:
- entao (A), queres vir almoçar conosco? Ao sitio do costume? Ta bem, a gente espera. Rapazes, ele vem daqui a meia horita, vamos pedindo, mas cuidado com o que pedem, que o (A) tem uma relaçao com o dinheiro muito estranha...[aqui da-nos uma liçao de moral sobre o dinheiro e todos se riem do forreta do (A)]
Pedem uma salada cada um, e duas garrafas de agua para os cinco. Mais frugal impossivel.
O (A) nunca mais se ve. Entretanto acabam, tomam café e vem a conta. (E) assobia para o ar. (B) e (C) olham para ela, mas fazem de conta que nao é com eles. (D) e (F) sentem-se um pouco embaraçados, pegam no papel e, com alguma cerimonia, dividem: 27 euros e tal a dividir por cinco marmanjos da cinco e qualquer coisa a cada um. (E), o chefe, poe o dinheiro na mesa:
- Aqui estao seis euros, e ainda da qualquer coisita para a gorjeta.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(depois, para se redimir da FORRETICE DOENTIA tipica destes MERDOSOS MICROGESTORES ITALIANOS, paga os gelados)

9 de setembro de 2005

8 de setembro de 2005

e se um dia...

...acordasse e pagasse 15% de impostos? Sim, QUINZE POR CENTO, nao importa quanto se ganha, sem escaloes nem diferenciaçoes. Vou emigrar mas é para a Polonia.
Passando alem da dubia ética de cobrar uma percentagem maior a quem ganha mais (que é o que acontece agora), esta ideia é extremamente inteligente por isto: nos nossos paises - Portugal e Italia - foge-se como se pode aos impostos. O risco de ser apanhado é minimo, e o facto de se pagar mais ou menos metade do que se ganha (é quanto paga o meu chefe aqui) faz com que compense nao declarar tudo. Nem que seja para evitar passar, por pouco, de escalao e ter que pagar muito mais, ganhando quase o mesmo.
Ora, sem escaloes e com uma taxa unica, relativamente baixa, passa a ser, por um lado, mais facil controlar o contribuinte e por outro menos rentavel para ele fugir. Acredito que a maior parte das pessoas que foge aos impostos nao o faz por ser intrinsecamente vigarista, mas sim porque o sistema é injusto e potencia grandes injustiças. Assim, com esta ideia tao desarmantemente simples, os ricos continuam a pagar mais que os pobres mas nao sao incentivados descaradamente a fugir para o Panama' para nao serem roubados pelo Estado. E vistas as coisas, sao eles que o subsidiam...

7 de setembro de 2005

Eu até podia trabalhar mais rapido, mas para que arriscar-me a partir uma unha?

escrito no porta-chaves do A (v. post anterior). A's vezes penso que é o lema dele. Ainda bem que daqui a dez dias me ponho na alheta.

historietas do dia

Levanto-me à pressa e à ultima o dilema poe-se: lavar os dentes ou perder o comboio? Como me jurou o ex-cunhado dentista de um amigo meu ha' uns anos, comer uma maça verde equivale a essa operaçao. Assim, pego numa e saio de casa a correr. No elevador, um velho:
-he he he, una mela al giorno toglie il medico di torno. (ou, an apple a day keeps the doctor away) como se costuma dizer.
-hmmmm.. pois obrigado, realmente...
Despeço-me e corro para a rua. No sema'foro, enquanto espero e duas mil outras coisas me passam pela cabeça, alguem me toca no ombro:
-Una mela al giorno toglie il medico di torno!he he he.
é outro velho, gordo e com mau ha'lito, mas que me segura no braço a rir e me continua a explicar:
-Os provérbios nunca falham! Outro que se diz é:
Se la bocca [faz gesto com as maos a mexer em frente à boca, como se estivesse a mastigar] il cullo regge. (ou em portugues, se a boca mastiga, o cu aguenta). Nao se preocupe jovem, enquanto comer, esta' tudo bem!
-Buongiorno, arrivederci

obrigado

ao HM pela ligaçao, e por tornar a escrever!

6 de setembro de 2005

mais um que faltava

o Causa Liberal, obviamente!

Recuerdos de Verao

Dispersos:
Chegar ao Porto de aviao, à noite, e ver tudo escuro e a arder - parecia as imagens do N. Geographic, quando mostravam os vulcoes e a lava em close-up;
Ir à praia na Costa Nova, em Aveiro, e ser bombardeado com milhares de graos de areia por uma nortada fria insuportavel, depois de ter estado a morrer de calor em Roma e N.Iorque sem poder ir ao mar;
Ir à Charnica, um sitio meio secreto algures na Serra da Estrela, e apesar da pouca agua no rio Mondego, ter alguns momentos de comunhao com a Natureza e com os meus amigos punks;
Estar à espera da entrevista em N.Iorque, a apanhar vento no cais em frente ao Hudson;
Um churrasco algures em Matosinhos, tambem num sitio meio secreto (pelo menos dificil de encontrar) e em que acabou tudo de rastos;
Estar até às tantas no miradouro da Graça a tomar copos e de repente alguem se lembra de pedir o "sake portugues" para impressionar o nosso amigo japonoca - mas vieram tres copos de balao com aguardente velha, ou coisa que o valha, intragavel;
Voltar para Roma num aviao cheio de peregrinos que tinham ido a Fatima, a atropelar-se uns aos outros para ir à casa de banho do aviao antes dele levantar voo. Encaixado entre duas velhotas que me coscuvilharam a vida toda (quantos anos tens? tens namorada? tens pai e mae? és catolico?). A da esquerda, quando nos trouxeram a refeiçao, diz:
-Olha, eu divido a minha sande e comes metade
-Obrigado, minha senhora, mas isto chega-me
-E que? Quem é que a come?
Dito isto, e perante as minhas negaçoes, aproveita um momento de distracçao minha, pega na fatia de presunto dela e poe-na em cima do meu pao!!!!
-Anda la' que estas magro!
(esta simpatica velhota parecia portuguesa, mesmo fisicamente com bigode e tudo, e falava com um sotaque estranhissimo - os peregrinos eram de uma aldeiazita a Norte de Roma, Montefiascone)

1 de setembro de 2005

esquema político simplificado que tenta explicar porque é que pensar em termos de esquerda e direita faz parte do tempo da Maria Cachucha

• um LIBERAL põe a primazia na capacidade do indivíduo para se governar: moral e economicamente;
• um SOCIALISTA põe a primazia na capacidade do Estado para governar os indivíduos, moral e economicamente.

LIBERAIS e SOCIALISTAS podem ter, em maior ou menor grau, duas atitudes perante a sociedade:

• um CONSERVADOR quer que as coisas se mantenham o mais possível como estão;
• um REVOLUCIONÁRIO quer que as coisas mudem o mais possível.
(pronto, puz o Conservador à direita e o Revolucionário à esquerda - é a única concessão ao sistema tradicional)

Pode-se ser também mais ou menos liberal, mais ou menos socialista, mais ou menos Conservador ou Revolucionário. Ou seja, não há pretos e brancos mas um esquema geral em que cada um se identifica em maior ou menor grau com cada uma das direcções.
Assim, em Portugal, por exemplo, um Liberal pode ser considerado Revolucionário quando comparado com um Liberal inglês. Da mesma maneira, um Socialista será bastante conservador, já que no nosso triste país tratará de prolongar o status quo existente. Poder-se-ia dizer também que entre Socialista e Revolucionário está um Reformista, ou seja o middle-ground, aquele que quer mudar aos poucos e o mais possível com base em soluções já testadas (isto muitas vezes é confundido com ser conservador, que implica nenhuma ou muito pouca mudança).

Sei que este esquema é bastante simplista. Estou a trabalhar num mais completo, ou que não tenha tantos erros, e para isso peço a vossa colaboração (claro). Mas terá que ser sempre simples e ao mesmo tempo abranger tudo - sem cair na anacrónica noção de esquerda e direita, que de qualquer maneira só interessa aos partidos mais extremistas.

[isto foi porque me irritou aquela história do Café Blasfémias e da "Direita Liberal" e só agora é que tive tempo para o publicar. Por pouco pensei que para ser liberal tinha que andar de fato azul com botões dourados...]